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  • Foto do escritorVOA INSTITUTO

QUEM CUIDA DO FILHO?

Um cuidado bem-sucedido é a chave principal

para a saúde mental da geração seguinte

Bowlby



O projeto de ter um filho é realidade para muitos casais, fomentando questionamentos sobre como será feito o cuidado ao novo membro. Não é difícil imaginar que a rotina intensa de homens e mulheres, tornam esta preocupação bem procedente.


Ao longo da gestação, o casal permanece próximo na expectativa de receber seu esperado bebê. Pairam interrogações do tipo como serão suas feições, seu jeitinho, as preocupações com enxoval e da nova rotina que se aproxima.


Porém, quando o bebê nasce, o casal passa a enfrentar novos e desafiadores ajustes de realidade. Isso porque cuidar de um bebê requer tempo, disponibilidade e dedicação. É um trabalho exaustivo e pode se tornar desgastante se for feito por uma só pessoa.


Em geral, esse papel é atribuído a mãe. Mas o que justifica as mães serem encarregadas quase que exclusivas do cuidado ao filho, com privação de sono e de um espaço para ser cuidada? Seria somente pelo aleitamento que isso acontece?


O objetivo desse texto é desmistificar o cuidado como sendo atribuição apenas da mãe e sensibilizar pais, avós e amigos a refletirem sobre a importância do cuidado, por meio de uma rede de apoio.

O cuidado como função de mulher faz parte de uma cultura que muda muito lentamente. As crenças, os valores e comportamentos sociais reforçam o cuidado de uma criança como uma função materna, embora não devesse ser exclusividade de mulheres.


A teoria do apego explica que, com base na etologia, o comportamento de cuidados assim como o de apego é, em certa medida, pré-programado e está pronto para se desenvolver dentro de condições que o ativem. O comportamento de cuidar tem raízes biológicas, mas sofre forte influência da aprendizagem que é feita no meio ambiente. (Bowlby, 1989)


Com isso, ao se dizer que a criança quer a mãe, o pai poderia exercer uma função para a qual apresenta recursos, mas que não são acionados por questões de aprendizagem em uma cultura que atribui a mãe esta função. Lembrando que homens e mulheres aprendem a serem cuidadores enquanto atuam nesses papeis. As condições são iguais, exceto pela cultura que os discrimina.


Em cenários em que o aleitamento acontece de forma exclusiva pela mama, a figura materna é essencial, por ser ela quem carrega a condição. Mas nos vários outros cuidados que uma criança precisa, é possível se contar com outras figuras que compartilhem do trabalho exaustivo que envolve cuidar de uma criança.


Explicando a importância do cuidado, Bowlby (1989) trouxe a importância dos cuidados nos primeiros anos de vida do bebê para sua saúde mental. Quando muito pequeno, a criança requer cuidados ao ser alimentado, ter trocas afetivas sensíveis, ser mantido sequinho, limpo e em temperatura agradável, confortável e seguro. Quando maior, precisará de limites, de estímulos nas trocas interativas e nas explorações ao ambiente.

O bebê necessita estar ligado a outro ser humano para sobreviver. Para isso, ele busca comunicar suas necessidades e interagir com o meio, usando recursos como emitir sons, movimentar o corpo, sorrir, chorar. Tudo para receber a atenção e o cuidado que precisa.


Estes comportamentos visam ativar o comportamento de cuidado de alguém que possa não só alimentá-lo, mas mantê-lo sequinho, fazê-lo companhia ou acalmá-lo se estiver se sentindo ameaçado. A maioria dessas funções podem ser realizadas não só pela mãe, mas pelo pai ou qualquer outra pessoa que possa assumir um cuidado responsável.


São comuns frases como “ele se acalma com você”, “você entende melhor ele”, “você sabe o que fazer”. São direcionadas a mães, parecendo crer que estas têm poderes especiais. Cabe esclarecer que a criança precisa de um adulto, mais forte e mais sabido, que a ajude naquilo que ela não consegue. Precisa de um adulto que se conecte a ela, buscando entendê-la, acalmá-la, atendê-la.


As necessidades materiais e emocionais de uma criança podem ser atendidas por qualquer adulto sensível e que se disponha a ajudá-la na sua regulação e equilíbrio interno, já que sua imaturidade a impede de realizar sozinha. Assim, o papel de pai como ajudante da mãe, não condiz ao papel que ele pode ter junto ao seu (sua) filho (a).


A criança aprenderá a interagir com seus cuidadores na mesma medida que seus cuidadores aprendem com seus filhos. Não existe scripts prévios e é bom que não haja. O conhecimento mútuo cuidadores-filhos ocorre nas interações que oportunizam trocas e aprendizagens a todos. Assim, a participação ativa dos pais se torna rica por propiciar uma proximidade entre ambos, mediada pelas tarefas e acontecimentos diários.

Além disso, relações próximas entre pais e filhos propiciam estímulos diferentes, gerando ganhos de intimidade, confiança, abertura. As descobertas se ampliam quando a criança passa a interagir com as diferentes individualidades, fortalecendo vínculos com ambos.


Estendendo a importância das relações com mais de um cuidador, torna-se relevante ressaltar o papel de uma rede de apoio para esses cuidadores que trabalham ou que demonstram necessitar de apoio.


Os cuidados dispensados por avós, familiares e amigos pode ser uma rede de amparo e proteção à saúde física e mental dos cuidadores e da criança. Infelizmente, a cultura não estimula essa possibilidade de cuidado, na qual a criança pode permanecer por mais tempo na sua casa, com sua rotina e com um cuidador disponível para ela. Este formato possibilitaria a criança estar um pouco maior, e portanto, mais resistente para iniciar sua adaptação a uma creche ou escolinha.


O cuidado é essencial para a saúde física e emocional de todos os membros. Se os cuidadores se perceberem com recursos para dispensar esse cuidado, terão uma chance de fortalecerem a cumplicidade enquanto parentalidade e propiciaram uma experiencia rica para seu filho.


Referência bibliográfica

Bowlby, J. Uma base segura: aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.



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