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LIMITE COMO ATO DE CUIDADO



Como soa para você a palavra limite? A palavra lhe remete a proteção ou a uma limitação? Para muitas pessoas, a palavra limite pode estar associada a algo desagradável e negativo, trazendo uma percepção negativa sobre a palavra e o seu papel na vida. Entretanto, o estabelecimento de limites pode ser extremamente protetor para um desenvolvimento humano pleno saudável.


O objetivo aqui é de refletir sobre a importância do limite como forma de cuidado, discutindo aspectos que contribuem para uma percepção negativa e de como o uso do limite é um cuidado, a si próprio ou a quem se ama, nas diferentes fases da vida.


Na relação adulto-criança, o adulto é a pessoa capaz de dar proteção e a criança é o lado mais vulnerável por ser imatura. Nesta relação, caberá ao adulto estabelecer limites visando protegê-la de riscos ao seu bem-estar físico e emocional.


Ao dar limite, oferecerá segurança e previsibilidade, com delimitação de rotina, espaço, tempo, forma de fazer. A pessoa mais capaz, consciente de ser o adulto e cuidador, agira consciente do seu papel, embora a criança possa não entender ou concordar com o sim ou não vindo dele.

O que pode então interferir no limite como uma medida de cuidado? Em algumas situações, o limite dado pode impactar negativamente, como por exemplo: quando o cuidador decide um limite de forma impulsiva, sem refletir bem o porquê deste naquele momento. Quando o adulto não reflete e a criança mostra desagrado (o que pode ser bem comum), o cuidador pode não demonstrar a segurança necessária em manter o limite dado.


Outro aspecto é não estabelecer limite mediante situações em que esteja agindo reativamente, seja por estresse, cansaço ou para dar uma lição na criança. O limite precisa estar direcionado ao cuidado de quem não demonstra capacidade de ainda fazer isso por si só. Cuidar consiste em um ato de interesse pelo outro que não deveria estar carregado de outros interesses (como punir a criança ou por estar exausto) além da sua proteção.


O estabelecimento de limites para uma criança será mais bem aproveitado caso o adulto consiga conversar com a criança sobre como ela se sente, refletindo com ela sobre seus sentimentos e a necessidade daquela medida. Em algumas situações, permanecerá a frustração, mas o fato de ter havido uma conversa pode promover um aprendizado e o letramento emocional.


O limite na adolescência parece se tornar mais desafiador para os pais, pelos questionamentos e confrontos feitos pelos filhos mais crescidos. Os jovens questionam e desejam argumentos mais consistentes do que meramente um “não” ou “não pode porque estou mandando”.


A transição que o adolescente atravessa, na qual transita entre a dependência para uma fase de maior autonomia, o faz buscar a ampliação do seu poder de escolha do que quer para si mesmo. Caberá aos pais perceberem na relação com seu filho quais limites ainda devem permanecer como medida de proteção para ele e de como podem gradativamente flexibilizar limites possíveis. Em qualquer das situações, a chave será o diálogo entre todos, com abertura, confiança e argumentos consistentes.


Outro aspecto importante ao estabelecer limite é a dosagem. Alguns cuidadores ao definirem limites não dizem em que condições e por quanto tempo valerá. Exemplos disso é suspender acesso a TV ou a celular como forma de castigo, sem estabelecer limite (uma hora, um dia ou um mês) ou oferecendo uma gradação na dose. Perde-se o foco da aprendizagem para destacar a punição.


Alguns podem dizer que, se limite é tão bom, por que ainda se tem tanta dificuldade em dá-los? Para algumas pessoas ser percebida como “má”, “castradora” ou não “ser amada” pode oferecer um risco a sua autoimagem caso deseje ser sempre amada. Para isso, torna-se necessário entender que cuidar de alguém pode passar por precisar desagradar ou mesmo não ser amada, porque o objetivo principal é proteger quem se ama e não ser apreciada.


Outra coisa muito comum são os adolescentes compararem o cuidado e limites recebidos pelos pais com o de outras famílias. Frequente ouvir pais preocupados por não permitirem seus filhos adolescentes irem para festas com bebida liberada e nenhuma supervisão de alguém que responda pelo que está acontecendo. Alegam que temem que seus filhos não experimentem a vida.


Cuidado e limites passarão pelos valores praticados pelos pais, pela percepção de risco e do que desejam proteger seus filhos. Valerá a pena a experiencia de um coma alcoólico diante do risco que o jovem corre? O adolescente ainda não está pronto para compreender todos os riscos envolvidos em algumas situações e caberá aos pais oferecer segurança e proteção.


A experiencia de viver uma vida com limites, ou seja, com bordas é extremamente saudável para bem-estar físico, emocional e mental. A experiencia positiva de limites ao longo da vida, uma vez internalizada, possibilita que quando adulto, este consiga cuidar e respeitar seus próprios limites. Estes garantem seu ‘sim’ e seu ‘não’ visando relações ganha-ganha.


Muitos adultos dizem ‘sim’ para os outros, mas ‘não’ para si próprios. O que estabelece uma relação de ganho para a outra pessoa e de perda para si próprio. Quando ocorrer de dizer sempre “não” ao outro e “sim” para si mesmo, pode ser visto como individualista. Quando consegue equilibrar um “sim” para si mesmo e para o outro na relação, encontra um ponto de equilíbrio que pode ser visto como ganho para todos os envolvidos.

O autocuidado é um ato de respeito, de proteção e segurança dispensados a si mesmo. São as experiencias infantis que oferecem a possibilidade de perceber limites (seus e dos outros), aprender com a frustração propiciada por um limite bem colocado e ter saúde mental que fomente relações saudáveis.


Acario, Sylvia; Jarró, P. M. e Correia, J. (2023). Limite como ato de cuidado. Voa Instituto de Psicologia. www.voainstitutodepsicologja.com.br

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