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AUTOESTIMA E PSICOTERAPIA: UM CAMINHO PARA DESENVOLVER SUA AUTOCONFIANÇA E PERCEPÇÃO DE MERECIMENTO.

Atualizado: 16 de fev.



É comum o relato de pessoas que se dizem com autoestima alta ou baixa, sendo usada para justificar determinados comportamentos. Em atendimento clínico é frequente se ouvir: “preciso melhorar minha autoestima”, “acho que não tenho autoestima” e muitas outras formas. Mas afinal o que é e como ela impacta nas vidas e no senso de satisfação consigo mesmo? Responder essas indagações será um dos objetivos desse texto.  O outro, será discutir se a psicoterapia é um caminho para desenvolver a autoestima e como esse processo se dá.


No dicionário de Oxford online, autoestima está definida como “qualidade de quem se valoriza, se contenta com seu modo de ser e demonstra consequentemente, confiança em seus atos e julgamentos”. Esta talvez seja a compreensão presente no senso comum, mas que talvez não englobe todas as situações nas quais a autoestima se faça presente e necessária. Brander (1993) apresenta autoestima como um sentimento de competência pessoal (presente em quem confia nos seus recursos pessoais) e o sentimento de valor pessoal (traduzido no senso de merecimento diante das várias situações da vida). A autoconfiança que temos na nossa competência de lidar com os desafios da vida somado ao direito de ser feliz (e respeitar suas necessidades, limites e interesses), compõe a autoestima.


A conceituação de Brander torna interessante ao apresentar o senso de confiança nos seus recursos, mas também incluir o senso de valor e merecimento. Ambos são necessários no enfrentamento dos desafios do cotidiano. Como pensar em ser feliz e realizado, se não estiver presente o senso de merecimento dessa sensação interna? Como ser capaz de empreender a vida, formar uma família e ganhar dinheiro, quando não se carrega a percepção de possuir valor, de merecer e de confiar nos seus pensamentos e sentimentos?

Referido autor assinala ainda a relevância do autoconceito e de viver conscientemente. O autoconceito é entendido como “quem e o que consciente e inconscientemente achamos que somos”, incluindo características físicas, psicológicas, aspectos positivos e negativos nosso. O viver consciente engloba o estar cônscio de tudo que afeta nossos atos, propósitos, valores e metas e se comportar de acordo com o que queremos para nós. A armadilha do viver consciente está presente nas pessoas que apesar de muito inteligentes, com cognição desenvolvida e com recursos de sobra, desconhecem o impacto das suas emoções. São estas que estão presentes, muitas vezes inconscientes e assumem o controle em situações limites, onde a pessoa se sente testada pelo meio ou quando se está em momentos de maior vulnerabilidade, como quando se está doente, sob forte estresse.


A autoestima, sob o olhar do apego, está ligada a experiencias precoces onde o cuidado dispensado a criança assim como sua relação com seus cuidadores, ajudou-a a desenvolver uma percepção (carregada de sensações, emoções e pensamentos) de si como alguém amado (ou não), com recursos (ou não além de poder ou não lidar com o mundo), merecedor de ser amado (ou não), sendo feliz e realizado (ou não). O modelo operativo interno traz uma percepção de si positiva ou negativa acerca de si mesmo, moldando também a percepção acerca das pessoas ao seu redor e do mundo como fontes de trocas positivas (ou não) e o mundo é percebido como seguro (ou inseguro) e valendo a pena (Bowlby, 1989). Ou seja, os primeiros anos de vida são a base na qual são plantadas mensagens que são ouvidas de forma frequente e que despertam emoções e compreensões positivas ou negativas acerca das nossas capacidades, da nossa aparência física, do nosso jeito de ser. O que é ouvido, visto e vivido com as figuras de apego, cuidadores que estão conosco, torna-se verdade absoluta e inquestionável. Com isso, quando se cresce, o script já está pronto e o adulto “atua” dentro do que ouviu ao longo da sua infância, quando não tinha maturidade para discernir o que lhe era dito. A criança que se percebia superprotegida pelos seus cuidadores, onde os adultos ao seu redor pareciam não confiar nos seus recursos de lidar com situações desafiados, cresce um adulto que provavelmente duvidará das suas capacidades. Exemplos não faltam em consultório sobre a importância do que é dito as crianças. Uma jovem de 34 anos, após não ser aprovada em algumas entrevistas de emprego, buscou pela psicoterapia e pôde pedir ajuda. Segundo ela, ficava muito nervosa e apesar de ter muito conhecimento, não conseguia falar o que sabia nem tampouco se posicionar de forma assertiva. Após algumas sessões, a jovem trouxe memorias de afirmativas da sua mãe que repetidas vezes dizia que ela não sabia de nada. A percepção que a jovem tinha de si mesma era de alguém que simplesmente não sabia o suficiente, duvidando do que conhecia e do que pensava e sem confiança no seu próprio julgamento.

As repercussões são inúmeras, estando presente de diferentes formas e em diferentes circunstâncias. Pode estar presente nas relações amorosas, onde as trocas afetivas não se dão com respeito ou com igualdade, mantendo-se em relações abusivas ou insatisfatórias. Pode estar na área profissional, na qual uma pessoa pode trabalhar em um local que não gosta, ou não consegue performar como gostaria ou é mal remunerado e não consegue sair por acreditar que não consegue ou não merece conquistar algo melhor. Na família, a autoestima acontece na invisibilidade que alguns membros vivem, ou são alvo de piadas depreciativas ou de críticas, gerando uma sensação interna permanente de inadequação


E como então ter a tal da autoestima? É possível mesmo desenvolvê-la?


Ao relembrar como se forma a autoestima, percebe-se que por meio das relações vivenciadas entre criança e adultos, a percepção de si vai sendo formada. Quando criança, face a sua imaturidade cognitiva, tudo que é dito por quem cuida se torna verdade inquestionável e é absorvida sem questionamentos. Quando esta criança se tornar adulta, ela irá reproduzir o que compreendeu ao longo da vida, cabendo a ela reedição e a responsabilidade de assumir um protagonismo sobre sua vida. Durante a infância, ainda é pouco frequente o uso de reflexão – sobre sentimentos e pensamentos. Na psicoterapia, será o espaço para desenvolver a capacidade de pensar, analisar, refletir. E qual o objetivo? Por meio da relação psicoterapêutica, o cliente pode vir a ter a oportunidade de revisar a percepção que tem não só de si mesmo, mas também de entender como chegou a essa visão de si. Não é magica, mas é mágico. Gradativamente, à medida que se joga luz sobre os equívocos e mal-entendidos sobre o que ela ouviu acerca de si mesma e ela consegue sentir emoções diferentes daquelas experimentadas anteriormente, vai ocorrendo a mudança comportamental e emocional.  A psicoterapia é um caminho transformador de mudança pessoal, onde o resgate da autoestima leva a novos padrões de relação consigo mesmo, com os outros e com a vida.

 

REFERENCIAS

BRANDER, Nataniel. Auto-estima: como aprender a gostar de si mesmo. São Paulo: Saraiva, 1993.

BOWLBY, John. Uma base segura: aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

 

Acario, Sylvia; Jarró, P.M e Correia, J. (2024) Voa Instituto de Psicologia. www.voainstitutodepsicologia.com.br

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